3.5.14

Querido pai, 
Sei que estamos perto do dia da mãe mas aqui vai ficar uma carta para ti. Não sei bem porque esta ideia de escrever para ti, mas procuro um alívio qualquer vindo disto e penso que realmente vá ajudar em alguma coisa.
Pai, quero lembrar-te que a vida é feita de altos e baixos e não só de altos ou de baixos como é o mais costume. Convinha talvez lembrar-te do que significa ter uma família e com isso lembrar-te do que é o amor. Amor, amor não é suportar, amor é dar suporte, é estar presente e dar o melhor de nós e já não vejo nada disso nesta família, o amor morreu nesta casa. 
Ao contrario do que pensas, é difícil para mim viver numa casa onde não há gestos de carinho, numa casa onde eu não posso abrir a boca para argumentar sobre nada, numa casa onde me sinto subestimada e sem valor, num casa onde ninguém se vê, onde ninguém se fala. Os problemas entranhem-se em cada um de nós e é triste olhar vos nos olhos, não vejo nada, é como se houvesse um certo vazio no vosso olhar, tu e a mãe, quem diria que seria assim. Talvez seja até mais difícil para mim no meio disto tudo e até nestes momentos sou acusada de não querer saber e de achar isto tudo uma diversão. Eu já não sou criança nenhuma e criança ou não eu não sou a causa de tudo isto e não sou eu que devo levar com todos os problemas e desabafos.
Escrevo para ti e não é por te ver como um culpado de algo, digo desde já que te admiro imenso e és uma pessoa incrível e apenas tenho pena, tenho pena de ver o meu pai todos os dias desistir de mim, da minha mãe e até de si. E tudo isto gera uma raiva e um ódio dentro de mim, que odeio simplesmente sentir porque te amo. Já ninguém luta nesta família e eu pergunto-me onde se meteu a força toda. Já ninguém faz nada para que tudo fique bem, nem um pouco e ignorar não resolve nada. Desistis-te admite e voltas a desistir em cada copo que pegas e tu apercebes-te disso é impossível negares.
De pouco adianta eu escrever isto se nem te vou entregar, não adianta escrever, não adianta leres, não adianta nada porque já todos desistimos e a nossa família morreu e vai morrendo a cada dia em que simplesmente ignoramos a presença uns dos outros. Vai morrendo não só a nossa família mas um pouco de cada um de nós. De pouco adianta porque também cansei de tentar ajudar, tentei a bem, tentei a mal e de facto de nada adiantou. E de nada adianta porque não tarda a nada vais te encher de derrota numa tasca qualquer.
Assim me despeço, 
a tua filha.

2 comentários:

Andreia Morais disse...

Fiquei totalmente sem palavras. Muita, muita força!

Beijinhos*

C. Correia disse...

Muitas vezes os pais esquecem-se de todos os ensinamentos que nos deram e decidem pelo egoísmo de si proprios esquecendo os sentimentos na base de uma familia. Força...